Na véspera da partida do Senhor, para Jerusalém, o culto do
Evangelho, na residência de Pedro, revestiu-se de justificável melancolia.
Intraduzível expectativa pairava no semblante de todos. O Mestre, por si, absteve-se de qualquer
comentário, mas, ao término da reunião, levantou os olhos lúcidos para o Céu e
suplicou fervorosamente:
— Pai, acende a Tua Divina Luz em torno de todos aqueles queTe
olvidaram a bênção, nas sombras da caminhada terrestre.
Ampara os que se esqueceram de repartir o pão que lhes sobra
na mesa farta.
Ajuda aos que não se envergonham de ostentar felicidade, ao
lado da miséria e do infortúnio.
Socorre os que se não lembram de agradecer aos benfeitores.
Compadece-te daqueles que dormiram nos pesadelos do vício,
transmitindo herança dolorosa aos que iniciam a jornada humana.
Levanta os que olvidaram a obrigação de serviço ao próximo.
Apieda-te do sábio que ocultou a inteligência entre as
quatro paredes do paraíso doméstico.
Desperta os que sonham com o domínio do mundo, desconhecendo
que a existência na carne é simples minuto entre o berço e o túmulo, à frente
da Eternidade.
Corrige os que espalharam a tristeza e o pessimismo entre os
semelhantes.
Ergue os que caíram vencidos pelo excesso de conforto
material.
Perdoa aos que recusaram a oportunidade de pacificação e
marcham disseminando a revolta e a indisciplina.
Intervém a favor de todos os que se acreditam detentores de fantasioso
poder e supõem loucamente absorver-te o juízo, condenando os próprios
irmãos.
Acorda as almas distraídas que envenenam o caminho dos
outros com a agressão espiritual dos gestos intempestivos.
Estende paternas mãos a todos os que olvidaram a sentença de
morte renovadora da vida que a tua lei lhes gravou no corpo precário.
Esclarece os que se perderam nas trevas do ódio e da
vingança, da ambição transviada e da impiedade fria, que se acreditam poderosos
e livres, quando não passam de escravos, dignos de compaixão, diante de teus
sublimes desígnios.
Eles todos, Pai, são delinquentes que escapam aos tribunais
da Terra, mas estão assinalados por Tua Justiça Soberana e Perfeita, por
delitos de esquecimento, perante o Infinito Bem…
A essa altura, interrompeu-se a rogativa singular. Quase
todos os presentes, inclusive o próprio
Mestre, mostravam
lágrimas nos olhos.
No alto, a Lua radiosa, em plenilúnio divino, fazendo
incidir seus raios sobre a modesta vivenda de Simão, parecia clamar sem palavras
que muitos homens poderiam viver esquecidos do Supremo.
Entretanto, o Pai de Infinita Bondade e de Perfeita Justiça,
amoroso e reto, continuaria velando por todos…
Texto extraído de: seara.espirita@uol.com.br